"Cidadão 8.5.1" de Rob Stalisz
Sinopse:
Guiados pelo Avisor Pessoal, uma fantástica máquina especializada em cuidar de cada cidadão, aquela sociedade parou de pensar, parou de questionar, parou de se preocupar com que devia sentir. A vida se tornou muito mais fácil, tudo estava completamente simplificado. Todos seguiam um padrão e a felicidade, seja lá o que isso fosse, finalmente foi alcançada. É nessa sociedade idealizada que vive Sonesen Smith, um conceituado cientista com uma importante missão: desenvolver um revolucionário equipamento, capaz de simplificar ainda mais o modo de viver. Porém, uma estranha experiência o colocará em conflito, mudando completamente o rumo de sua vida ao rasgar a cortina ilusória que cobre aquele modelo social, revelando aquilo que poderia ser a verdade, ou apenas o delírio de um homem. Uma história perturbadora, repleta de reflexões sobre a forma como as pessoas aceitam passivamente os moldes sociais em que estão inseridas, evitando lutar pela decisão de suas vidas, em um mundo de dependências tecnológicas. Um livro incomum. Um mergulho profundo numa espiral de loucura, num futuro utópico e dissimuladamente controlado.
Em Cidadão 8.5.1 acompanhamos o Dr. Sonesen Smith em sua pacata vida numa cidade cinzenta e monótona, que parece funcionar com precisão milimétrica. Sendo um agente de importância ímpar numa indústria de tecnologia, o personagem principal cede seu ponto de vista como guia à narrativa em terceira pessoa e tomamos conhecimento de como funciona tudo naquele mundo distópico, onde os computadores programam e regulam todas as atividades humanas, que são executadas sem contestação.
Após uma crise emocional recente, devido ao insucesso profissional em uma disputa com o laboratório concorrente, Sonen começa a destoar do comportamento ideal, e suas atitudes se revelam cada vez mais perigosas para a manutenção da sociedade perfeita. A narrativa se entrelaça no ponto de descontrole do personagem enquanto o mesmo ingressa numa pesquisa que visa exatamente o contrário: a solução definitiva para suprimir as emoções e garantir o adestramento humano.
A história tem um início modorrento, que combina com a ambientação do lugar que o leitor passa a conhecer, e casa muito bem com o clima do enredo, mas talvez esse marasmo dure mais do que devia: a agitação só aparece depois da metade do livro, o que pode deixar o leitor um tanto desmotivado com a história; para intensificar essa falta de ritmo, o livro possui um vocabulário bem limitado e abusa de adjetivações esquisitas, propositadamente colocadas antes do sujeito ou objeto, que soam forçadas em vários momentos – essas características também melhoram na metade final do livro, mas não chegam a desaparecer.
A visão política é muito explorada no enredo, deixando claras as convicções do autor, que critica não só nuances reais da sociedade, como também aspectos ideológicos, com algumas alegorias, até. A carga psicológica do personagem principal é bastante aprofundada, mas o clima varia de insatisfação com a vida a momentos de pleno desespero. Cidadão 8.5.1 definitivamente não é uma história alegre, de superação e salvação, é um romance denso, que leva o leitor para uma sociedade chata e desesperançada.
O que gostei:
- Dilemas vivenciados pelo personagem principal
- Idealização da cidade perfeita
- Críticas sociais bem atuais
O que não gostei:
- Erros gramaticais e ortográficos, desde flexão de verbos ao uso inapropriado de substantivos e crase
- Utilização de adjetivos
- Vocabulário muito básico: “grande” aparece adjetivando dezenas de vezes, e muitos objetos nomeados e substantivos são usados de forma genérica
- O autor faz uso vasto de metáforas, algumas delas fazendo referência a magia, sacralidade, épocas primitivas da humanidade; de alguma forma isto quebrou o clima futurista e tecnológico da narrativa, mais do que o intensificou (o que provavelmente era a intenção)
Considerações finais de Jonathan Ingram:
Cidadão 8.5.1 é um bom livro, com um enredo interessante e um clima agradável de filme dos anos 60, mas que sofreu com a falta de revisão e um estilo de escrita incipiente. Por ser o primeiro livro do autor, talvez isso possa ser melhorado em obras futuras, considerando que o problema foi realmente falta de experiência.