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Você já se considera um autor. Talvez sempre se considerou um autor, uma vez que desde muito novo se entrega à devaneios, rabiscos, anotações sobre personagens e escrita criativa. Mas ter escrito seu livro, colocado números de páginas, dedicatória, capa e vê-lo impresso, em suas mãos, sempre é uma experiência transformadora. Quer você seja um jovem escritor, auto-publicado ou publicado de forma tradicional, não importa: hoje o ofício é outro, onde a interação com os leitores é constante, e o feedback sempre chega até você.

 

Aí você publicou o dito cujo, que considera um filho. E não apenas sua família e amigos, mas dezenas (ou até centenas) de leitores gostaram muito da obra. Os e-mails, avaliações na Amazon, Skoob, etc, são positivos e as resenhas de blogueiros (quem sabe do IndieCando Livros) são entusiasmadas. Você está mais confiante, e feliz.

 

Então surge aquela crítica que te atinge como uma pedra. Ela não é como outras, aquelas que dizem “gostei do estilo da narrativa pelo ponto de vista do avô do rapaz em seu leito de morte, entretanto me incomodou que os ambientes não foram tão bem descritos...” NÃO. Você não recebeu uma crítica bem embasada, justificada, e fácil de ser compreendida. Como autor adulto, e sabendo que os maiores gênios da literatura tiveram seus haters também, você compreende que muitas dessas críticas são boas, saudáveis, te ajudarão a crescer e melhorar, e você não sente raiva delas. Mas essa nova...ela é desse tipo: “não gostei, fiquei decepcionado porque personagem X é um cretino escroto e bem-feito que morreu no final!”. Essa é de outro tipo.

 

Como lidar? A vontade (admitam) pode ser de responder: seudesgraçadovocêobviamentenãoentendeuahistóriavaisefuderseuotariovocêéburro. Mas antes de fazer isso, você toma um fôlego, respira, e entende que não pode ter essa postura. Então vamos separar esse artigo em mini-partes, para tentar explicar esse tipo de comportamento, como você pode tirar proveito dele, e com quem estamos lidando:

 

Quem lê o livro?

 

A leitura no Brasil costumava ser segmentada. Basicamente tínhamos uma minúscula parcela da sociedade que lia por prazer, comprava livros regularmente, mantinha clubes de leitura, etc. Hoje a população mais jovem devora livros, e temos que ter em mente que a maior parte dessas pessoas (leia-se: maior parte, não todos) apenas leem sagas, best-sellers, sexsellers e ainda não tem uma boa base de comparação. Não estou falando apenas que não leram “clássicos”, mas que leram pouco fora do YA, que leram poucos gêneros, poucos estilos, autores de apenas uma ou duas nacionalidades, os mesmo temas, etc. As chances de que quem está lendo seu livro seja uma dessas pessoas é gigantesca.

 

O Indivíduo

 

Mesmo quando a pessoa é um leitor de fato, ou seja, um leitor experiente, acostumado com a diversidade da literatura, e com maturidade para compreender certos assuntos, as pessoas têm formações diferentes, vivem em ambientes diferentes, tem religiões diferentes, etc. Isso afeta as decisões que tomam, quem são, e claro, como enxergarão seu livro. No meu caso particular, sempre escrevo com muita violência, sexo, drogas, etc. Tive sorte de ter uma base de leitores que entendem esses aspectos da vida e não se incomodam com eles. Mas minha primeira (e até hoje única) resenha negativa foi justamente do tipo que gerou a ideia para esse artigo. Do tipo: “essa protagonista é uma piranha desgraçada que merece se fuder”. Sim, muitos homens que resenharam tiveram uma postura menos machista do que a garota em questão. Mas é o que acontece mesmo. Ambiente cultura, religião, experiências pessoais, etc. Leitores são pessoas.

 

Como lidar?

 

Primeiramente, você tem que ter maturidade para avaliar se é uma crítica fundamentada, ética, respeitosa, ou se é uma crítica emocional e pessoal, revoltada com algum elemento específico com o intuito de difamar o autor/obra sem nenhum motivo razoável aparente. Como saber? Pelas justificativas. Uma crítica construtiva te falará exatamente o quê não agradou: estilo de escrita, falta de explicação ou descrição, erro de cronologia, falta de profundidade de personagem... Já a crítica troll vai ser focada em um ou dois aspectos superficiais da obra que por algum motivo causaram revolta naquela pessoa. Muita vezes têm uma veia preconceituosa, e algumas vezes a pessoa não oferece explicação alguma para não ter gostado do que leu. A crítica construtiva geralmente é polida e impessoal. Já a crítica troll contém traços de raiva ou deboche.

 

Tenho um troll em minha vida. Como agir?

 

Agora que você identificou um troll, ou apenas uma pessoa que odiou sua obra, mas não conseguiu fazer uma crítica/resenha respeitosa e ética, vem o momento sangue frio. Como autor, não se meta em brigas assim. Elas não têm fim, acabam envolvendo mais pessoas, e no final, você não terá mudado a crítica ou a cabeça da pessoa e a única coisa que as pessoas vão lembrar é que você, AUTOR, se meteu num “barraco” por uma crítica ruim. Nesse cenário: troll wins. O cenário no qual você ganha, você escreveu um livro que muita gente amou, e uma pessoa odiou. E ponto final. Quem tem discernimento lerá não apenas a crítica do troll, mas também as outras e de cara vai entender o que de fato aconteceu. Author wins. Um autor que precisa se meter nesse tipo de encrenca pode não ter maturidade para ser um autor.

 

Posso fazer fake? Posso trazer meus fãs/amigos/leitores/vizinho para o UFC literário?

 

Não deve. Às vezes dá vontade de ter um perfil fake e trollar o troll, claro. Mas o ideal mesmo é ficar na sua. Alguns de nós temos fãs ou leitores dedicados, que podem querer entrar na briga para defender a obra. Eu geralmente tento frear essas pessoas. Digo: relaxa... Mas algumas revidam mesmo assim. Seus admiradores podem refletir quem você é. Já viu algum quebra-pau literário quando uma pessoa fala que Capitu traiu Bentinho porque era uma piranha? Não, né? Sabe por quê? Porque leitores de Machado de Assis não respondem comentários desses. Então é legal que seus fãs, se de fato façam questão de te defender, o façam de forma elegante.

 

Quando é pessoal

 

Graças à internet, mais precisamente ao Facebook, todo mundo nesse mundo se conhece. E com isso, panelinhas são criadas. É capaz de você ter criticado o escritor Zé Pequeno pela sua obra “é o Cara*$#” dois anos atrás e algum “fã” dessa pessoa querer trollar seu livro por causa disso. Esses são os loucos, no estilo Annie Wilkes, e só tenho UM conselho: Fique. Longe. A maior tortura para um attention whore é ser ignorado.

 

Quando Acontece no Book Tour

 

Geralmente o blogueiro leu um ou outro capítulo da sua obra, conhece sinopse e gênero, então sabe no que está se metendo. Mas lembre-se que muita gente vai se oferecer na maior boa vontade para ler e resenhar seu livro apenas para isso: ler de graça. De qualquer forma, um blogueiro literário só vai queimar o próprio filme se fizer uma resenha tipo troll. E seus seguidores que compram essas ideias provavelmente não são do tipo de leitor que você quer atrair. Portanto, lamente o tempo perdido no qual seu livro estava com essa pessoa e bola pra frente. Se a resenha foi desrespeitosa e antiética, e pior, se continha spoilers, isso é injustificável e seu dever é avisar outros escritores.

 

Enfim, como tirar proveito disso?

 

“Nenhuma publicidade é má publicidade”. Com livros, isso é fato. Fico muito mais intrigada e com vontade de ler um livro quando vejo que muitas pessoas o amam, e muitas o odeiam. Isso gera muita conversa, especulação e curiosidade e as chances de pessoas quererem ler seu livro aumentam bastante. Fica aquele clima de “vou tirar minhas próprias conclusões” e garanto que isso é bom para o autor. Algumas das obras mais vendidas dessa década são bons exemplos disso. Em outras palavras: fique tranquilo.

 

E repasse esse artigo aos seus amigos. 

Lidando com Críticas, Trolls e Ser Autor na Era do Facebook

 

Artigo pela colaboradora Cláudia Lemes, autora da trilogia Woodsons e "Eu Vejo Kate"

 

 

 

 

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