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"Do Som ao Impacto" de Ygor Moretti Fiorante

 

Uma estreia surpreendente.

 

Peguei Do Som Ao Impacto para ler, da fila sempre ansiosa das obras encaminhadas para o email do IndieCando. Eu sou aquela que, na divisão de “gêneros” fui a primeira a me oferecer, de forma totalmente vulgar, confesso, para resenhar o “noir”.

 

Sou fã de noir. Me dê um Raymond Chandler ou um James Ellroy e eu faço o que você quiser. Gosto mesmo, não é fachada, eu AMO o cheiro de pólvora, as damas-putas esposas de detetives corruptos. Gosto mesmo.

 

Bom, peguei o livro sem saber o que esperar. Confesso que no começo a falta de ritmo, o uso inapropriado de algumas vírgulas, me estressou. Besteira, logo passou e o ritmo virou uma das coisas que mais gostei em Do Som Ao Impacto.

 

Confesso que não sou fã de contos. Acho que os novos escritores tem se apegado muito a contos porque são pequenos, por que não exigem um comprometimento de coerência e cronologia absurdos como ficções de 500, 600, 700 páginas. Imagine-se como um ator representando um papel num longa metragem, e não poder sair dessa personagem por um ano. Escrever um livro enorme dá nisso. É loucura, e deixa resíduos.

 

Tudo o que comecei a rabiscar no meu caderno para criticar em Do Som ao Impacto acabei riscando. Ele foi oferecendo cada vez mais, e no final, colocou um sorriso no meu rosto. Pensei: “Puta que pariu, Ygor Moretti é um ótimo, ótimo escritor”. Você já me ouvir falar isso antes, neste site? Não, né?

 

Do Som ao Impacto é uma obra curta, apresentando diversos contos entre três e sete páginas, mais ou menos, não completamente interligados, mas que se tocam em diversos momentos. Confesso que minha expectativa era de mais sexo e sangue, e me surpreendi com a certa delicadeza e poesia da obra. Não me entendam errado: Do Som Ao Impacto é forte, robusto, denso, e estranhamente belo. Me deu uma sensação familiar de nostalgia, como se falasse à um momento do meu passado, de imagens e sons de infância, sem nada que eu pudesse identificar como causador de tal sentimento.

 

Ygor usa palavras comuns e raras para tecer mini histórias um tanto quanto rasas, embora cruas e ilustrativas. Faz querer imagens em stêncil para acompanhar o texto. Faz sentir o cheiro de cigarro, ouvir o gelo mexendo no copo. Tem um quê de “brasilidade” que me surpreendeu.

 

“Escrever era um grito, gozar metódico e homeopático, o momento máximo das minhas conquistas”. = Cacete, Ygor!

 

Se eu tenho uma crítica, (motivo pelo qual minha nota não será máxima) é que desejei conhecer melhor as personagens. Sempre bato nessa tecla nas minhas resenhas. Para mim, foda-se a história, quero pessoas vivas. Sinto que 70% de mim é aplausos para Ygor, um respeito humilde mesmo, um ligeiro curvar de cabeça, um aperto de mão que diz: você não brinca de escrever. Você tem o dom. Os outros 30% são um desejo de ler algo mais fluido dele, um romance policial onde ele poderá trabalhar de verdade as personagens, dar-lhes cheiro e cor e nomes completos e memórias. Preciso de um clímax dentro dessa narrativa, preciso conhecer essas pessoas, odiá-las, me apaixonar por elas. Sinto que se Ygor Moretti se dedicar a um verdadeiro livro com uma história mais longa, será recebido de braços abertos pelo público de leitores de qualidade desse país. E se não for, terei minha comprovação de que o mundo é um lugar injusto.

 

Belo, cru, e inteligente, Do Som Ao Impacto é uma obra que vale a pena ser lida. 

 

Avaliação da Lady Quill: (1-5)

Linguagem e estilo: 4,8

Personagens: 3,7

Trama: 3,5

Originalidade: 4,5

Total: 4,2

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