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Luna, de Tadeu Jr.

 

A chamada do livro que chegou ao IndieCando Livros chamou minha atenção de cara: “A história da mulher que foi, em sequência, índia renegada, taberneira, mafiosa e pirata. Com uma pitada de suspense, outra de magia.” Curto uma vibe assim, de personagens feminas fortes, e me perguntei se em apenas 36 páginas conseguiria encontrar uma história interessante.

 

Sabe o que eu senti? Que Luna é um livro para ser lido como podcast. Tipo, colocar uma música de fundo, meio sombria e tal, e ler com uma voz grave: “Luna saiu. Estava um pouco abalada, nunca tinha visto um homem que fosse com tanta facilidade da ameaça de morte à gentileza. Os dois, o instinto dela dizia, sinceros. Era um homem perigoso. Isso também a deixava excitada, um mergulho de cabeça no desconhecido.” Também o imagino sendo lido num círculo numa biblioteca. Porém, o livro “lido”, e não “escutado”, apresenta algumas falhas.

 

Vamos aos problemas antes dos elogios, que é meu modus operandi (deal with it):

 

A primeira coisa que me incomodou foi o subtítulo: “Essa aí tem sangue fervente”. Achei meio cafona, meio Sidney Magal, meio cigana à luz da lua e tal. Acho que dá para encontrar uma forma mais sutil e misteriosa de dizer ao leitor: “cara, a mina é foda”. Mas OK, isso foi pessoal.

 

Sobre o aspecto físico da obra, me incomodou MUITO não ser justificada. Essa é a primeira regra do seu texto: justifique, caso contrário a leitura fica complicada.

 

Também há dezenas de erros de gramática, digitação, concordância, etc. Um nome aparece como Ray duas vezes, e depois se transforma em Jay, pelo resto do livro. São coisas que uma boa revisão, feita por alguém que não seja o escritor (não tem jeito, tem que ser outra pessoa, o escritor nunca pega tudo), vai corrigir. Dessa forma, o texto revisado vida outro, muito mais gostoso de ler. Exemplos: “abortaram” no lugar de “abordaram”, “eu mato ele” no lugar de “eu o mato” etc.

 

Ainda na questão da linguagem, senti que algumas expressões modernas não deveriam estar no texto por não combinarem com ele. Exemplos: “Saiu puto e xingando”, “Começou a cair a ficha”, “ele ia surtar”. Em um texto moderno e coloquial, excelente, mas numa obra de fantasia como esta não casou.

 

O uso da vírgula precisa melhorar também. Novamente, algo que um bom revisor pode resolver.

 

Bom, vamos à história, narrativa, personagens, etc. Eu gostei que a história indica que várias personagens serão abordadas, um conto de cada vez, todas fazendo parte do mesmo mundo, algo como as Crônicas Vampirescas de Anne Rice, só que de forma hiper mega mais breve. Isso é um ponto positivo.

 

Gostei da mitologia, embora acredite que precisa ser mais abordada, e não mencionada de forma tão esporádica e casual, entende? Não sabemos muito bem o limite desse “mundo” criado pelo autor, suas dimensões... Sabemos que há uma deusa, mas por ter sido escrito com “d” minúsculo, me pergunto se há apenas ela ou outros deuses nesse panteão. Gostei dos nomes, do pouco da história que nos foi apresentada etc, mas sempre ficou com essa coisa de “quê mais?”

 

Em geral, eu gostei do estilo e da personagem, mas não me apaixonei pela obra, não tive vontade de continuar lendo, não senti um vício, por um simples motivo: profundidade. O que senti é que existe uma narração de fatos: "ela foi, ela matou, eles pegaram o barco...” mas pouca VIDA àquilo. Sentimentos são raramente mencionados, e quando são, são com palavras simples demais: “ela ficou com medo”, “ele ficou com raiva”. Senti falta de uma descrição que humaniza as personagens, que faça com que nos importamos com elas, com o que acontece com elas. Também achei que com o material em mãos, o autor perdeu a oportunidade de fazer descrições épicas, que poderiam nos colocar naquele momento e lugar. Faltou um pouco de brilho na armadura, de sentir o cheio do mar, dos cinco sentidos. Exato, é isso que falta na narração: os cinco sentidos. O que se ouve, o que se sente, cheira, etc. O autor só focou no AGIR e VER. Falta o SENTIR, TOCAR, e tudo o que torna aquele momento REAL para quem está lendo.

 

Gostei de algumas frases e vou destacar esta:

 

“Desculpa, mamãe, não vou fazer de novo” – ou seja, ela aprendeu a falar e a mentir, as duas fundações da comunicação humana.

 

Ganhou mega pontos comigo essa daí.

 

Então, para finalizar, vamos resumir: sinto que há potencial em Tadeu Jr. Daquele potencial real mesmo. Sinto que ele tem ideias incríveis na cabeça, mas ainda acho que falta muito para passa-las ao papel da forma que faça o leitor mergulhar no mundo criado por ele. O narrador dele foi muito fraco, por exemplo, e não tinha muita voz na história. Ele pode fortalecer a narrativa deste cara, que é amigo e está contando a história da personagem principal. Poderia tê-lo usado, lhe dando personalidade e impressões sobre o conto que narrava. Deveria se aprofundar nos cinco sentidos de suas cenas para descrever melhor. E deveria dar mais sentimentos às personagens para torna-las REAIS. Se eu tivesse que dar um conselho à ele, diria: “Escritores ruins escrevem personagens. Escritores bons escrevem pessoas”.

 

Avaliação da Lady Quill: (1-5)

Linguagem e estilo: 1,5

Personagens: 2,8

Trama: 3,2

Originalidade: 4,0

Total: 2,9

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