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Mundos Através da Neblina, Rafael Piergiorge

 

O princípio implícito de que jovens autores não podem ser comparados com autores consagrados no mercado não se aplica ao que farei aqui. Faço-o baseado nas obras de literatura fantástica que li - obviamente que prefiro fantasia urbana estilo Neil Gaiman. Digo isto devido ao grau de exigência que adquiri ao ler obras consagradas com mundos primorosamente desvelados. Com tramas complexas e inebriantes, com personagens cativantes e delirantes estilos de magia que perfazem horas de imaginação pós-leitura. Este livro não se enquadra nas descrições acima. Ele é diferente.

 

Ao iniciar a leitura e visualizar a descrição que provavelmente inspira a capa, dei-me conta do “tom” que a obra assumiria: dark. Não é um estilo rápido e adolescente de Lev Grossman em Os Magos. É um estilo denso e sanguinário. Um estilo agradável para quem espera mais da fantasia que lutas com raios e bolas de fogo - que também há na obra. Enredo Inicialmente a obra de Rafael Piergiorge, parece uma distopia. Um futuro pós-apocalíptico, cuja Praga dizimou milhões de humanos. Entre eles há quem tenha algumas “habilidades”. Sim, inicialmente revirei os olhos ao imaginar o clichê do “menino-salvador-dos-mundos-e-nunca-reconhecido” ao estilo Potter. Não é. A trama não se passa para salvar a Terra, Ingnór ou qualquer outro mundo. Foca-se na construção do conhecimento do protagonista Ismael de seu passado e na descoberta dos segredos que reúne os mundos (abandonados pelos deuses, sejam eles quem forem).

 

Personagens

Ismael é o protagonista da obra que tem habilidade há muito desaparecidas - parece clichê, como já disse, mas ele não é o salvador. Há outros personagens como Ariella, a elfa, e Leoward, o titeriteiro - controlador de marionetes. A provavelmente bela elfa é inócua, sentimental e tenebrosamente fraca na trama. Imagino que o papel dela tenha sido de apenas despertar os sentimentos do protagonista - papel que será substituído pelo que foi descrito ao final da obra. Já Leoward é excelente. Sarcástico, sádico e curioso é uma descrição mais pormenorizada que o próprio protagonista.

 

Akiel e Orobog não serão discutidos aqui, mas o primeiro merece muita atenção, apesar da ausência de corpo. A descrição de ações e pensamentos é linear e clara.

 

Aparentemente o livro ainda tem muito a oferecer quanto aos personagens. Há um jornalista encarregado de uma descoberta e um cientista renomada que tem a posse de um instrumento magnífico - não apenas para a ciência pelo visto. A descrição dos deuses ou de seus descendentes é simplista provavelmente pela maior descrição futura - em continuações - da obra.

 

Pontos Fortes

A obra tem como excelente tópico a descrição do histórico, mesmo que rápido, da formação do universo, dos mundos e das espécies - mágicas ou não. Foi uma das descrições mais simples, objetivas e “certeiras” que já li sobre espécies e suas peculiaridades. A descrição de artefatos é outro ponto muito melhor que Farrell faz em O Trono do Sol. É possível visualizar o cajado de Orobog sendo erguido em seu formato - não darei ainda mais spoiler - diferenciado em direção a Ismael, Ariella e Leoward. Sem contar o Elmo de Akiel.

 

Sinceramente, é estarrecedora a descrição e o contexto histórico do mesmo artefato. O protagonista ainda não é, para glória de Gavan - ler o livro para compreender -, um sujeito que aprende instantaneamente as magias, mesmo na escola para tal fim, chamada de Vestígia, ele apreende de maneira estupenda e sob a aura lunar a magia como se tivesse praticado anos. Quando demonstra grandes obras, não é ele que o faz - não repetirei a sugestão sobre a leitura para não parecer ainda mais ríspido que a primeira indicação.

 

Reiterando: presta atenção às histórias das tipologias mágicas e não mágicas de seres, bem como Fúria Ancestral e o ditoso livro Arkanum. O tom da narrativa pode ser exemplificado enquanto dark, detalhista e rápido no capítulo intitulado "Olhos de acrílico”.

 

Pontos fracos

As ações de Ismael, mesmo jovem, não são de alguém consistente e isto foi destruidor de alguns spots. O protagonista vê, em alguns momentos, pessoas queridas sofrendo e não faz nada. Outras vê desconhecidos e se arrisca.

 

Encontrei apenas três erros, um deles de concordância nominal. Nada muito tenebroso.

 

A capa não tem relação com o enredo, pelo menos do meu ponto de vista (nada humilde - já falei que li o livro em aproximadamente 2h?). O que não impede de ser interessante visualmente. O título pode fazer sentido no futuro, quando houver mais neblinas que mundos. Por enquanto, não é adequado à obra.

 

Veredicto

O primordial não é que há uma escola de magia, chamada Vestígia, um mundo chamado Ingnór, ou seres míticos vagando pelas dimensões. Contudo a relação entre tudo isto foi o que me levou a imputar a nota 4, numa escala até 5, para a obra. Os títulos dos capítulos ainda servem não apenas para indicar o que acontecerá, entretanto para dar sentido - estilo resumo - do que o capítulo pretendia. E isto só se entende se o leitor mantiver “vivo” o título durante o capítulo - coisa que sempre faço bem para poder criticar a maioria dos títulos que não fazem o menor sentido ou são desnecessário. O autor, Rafael Piergiorge, tem um excelente futuro. Sugiro fortemente a leitura e continuação da série.

 

Resenha: A R Fonseca

 

 

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