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SEM LIMITES, de Lya Gallavote

 

Oi galera, saudades da megera-mor ceifadora de sonhos, Lady Quill? Não? Que pena....vamos à resenha:

 

Logo que comecei  a leitura de “Sem Limites”, tive primeiras impressões que apenas se confirmariam pelo restante da leitura. Em primeiro lugar, em comparação à grande maioria das obras independentes que leio (muitas!), o livro se destacou por uma qualidade “madura” de escrita. Quero dizer que, embora tenha ficado inegável que é um livro para adolescentes (perdoem-me, mas me recuso a usar o YA, que pra mim está cada vez mais se assemelhando a um xingamento, um sinônimo de falta de profundidade e qualidade), senti que a autora era mais adulta do que a maioria. Isso confirmei no final quando li sua mini-biografia. O livro não contém erros de ortografia, pontuação (embora algumas vírgulas me pareceram desnecessárias) ou gramática, e o estilo é extremamente consistente. Resumindo: a parte da escrita está muito boa, coerente, e bem-feita.

 

A história foca num garoto de 15 anos que vem de uma família de classe socioeconômica baixa, mas não segue o tema “favela”. De fato, a decoração da casa de Lucas, suas roupas, sua aparência física, são apenas descritos de leve, ou não descritos, de forma que cabe ao leitor preencher essa informação com o nível de pobreza que prefere atribuir ao rapaz. Sua mãe é bem estereotipada: humilde, boa, trabalhadora, preocupada com os filhos, maternal, sofrida. O pai também é estereotipado: envolvido com bebida e drogas, ocasionalmente violento, um tanto quanto ignorante, mas com vontade de se recuperar pela família.

 

Lucas consegue uma bolsa para estudar numa escola particular cara, se apaixona por uma “riquinha” bonita e do bem, e começa a sofrer bullying do primo da garota, Marcelo, e seus amigos. O livro segue a narrativa em terceira pessoa sobre os abusos sofridos por Lucas, seu irmão e amigos, assim como pela mocinha, Renata, nas mãos do vilão. Em outras palavras: a história não é inovadora, as personagens são bem estereotipadas e não muito trabalhadas em relação aos seus detalhes, sua personalidade, etc. Faltou um pouco de um jeito específico de mexer, falar, preferências, vida e experiências passadas das personagens. Ou seja: são personagens, mas não pessoas reais.

 

Não posso dizer, entretanto, que não gostei do livro. Acho que ele tem seu lugar no mundo, acho que ele tem um segmento específico de leitor, na faixa etária entre 12 e 17 anos, principalmente aqueles que podem se identificar com o protagonista. Por ser leve, é um livro que pode facilmente (e deve) ser dado para leitura em escolas, especialmente as estaduais, como incentivo à leitura, conscientização do bullying, e é um livro com final novelesco, feliz, previsível, que para essa faixa etária não é necessariamente uma coisa ruim.

 

O livro não me impressionou, porque não é o tipo de leitura que particularmente me atrai. Como vocês já sabem, eu gosto de muita realidade, de surpresas, de violência e sexo e muita profundidade de personagem. Mas eu não posso ser imatura a ponto de achar que porque ele não me agrada, não tem público certo, porque tem sim. É aí que muitos resenhistas erram: de achar que se não foi feito para eles, não foi feito para ninguém. Falo mais uma vez que é um livro ideal para o segmento que mencionei acima. Tenho certeza que agradará imensamente boa parte desse tipo de público.

 

Como minha resenha está meio nhenhenhém (não dormi ontem), vou resumir aqui pontos fortes e fracos da obra:

 

Fortes:

Bem escrito, consistente, leve, coerente, tema importante, linguagem adequada ao público alvo, maturidade na escrita, descrição de sensações, pensamentos e sentimentos.

 

Fracos:

Longo demais para a história que deseja passar, diálogos superficiais em abundância, muitos clímax com intensidade igual, sem escalação de tensão, previsível, cliché.

 

Notas: tem um erro sério de diagramação, uma vez que o mesmo capítulo aparece duas vezes consecutivas (se não me engano o 4 e 5), mas nada demais, algo que pode ser consertado rapidamente.

 

Um incômodo pessoal: não gostei muito da forma como o relacionamento amoroso entre primos é encarado de forma tão natural na história, chegando a ser endossado pela mãe da protagonista. Nada contra, mas por ser um tema controverso, até tabu dependendo da pessoa, estranhei sua naturalidade na obra, que parte de um pressuposto que é algo “comum” e “normal” para todas as pessoas, coisa que não é.

 

Em geral, parabenizo a autora por seu trabalho, mas fiquei com vontade (pessoal) de algo mais corajoso, mais impactante, talvez. Sem Limites sem dúvidas tem um bom público o aguardando.

 

Avaliação da Lady Quill: (1-5)

Linguagem e estilo: 4,0

Personagens: 2,5

Trama: 3,0

Originalidade: 2,0

Total: 3,0

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