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Esse Amor Que Me Faz Delirar, de Dayane Ribeiro

 

Li Esse Amor que Me Faz Delirar em duas horas. Durante essas duas horas, fiz trinta mil anotações, algumas de críticas e outras de elogios. O livro é um daqueles casos: não é minha típica escolha de leitura, e isso apresenta uma oportunidade: resenha-lo de forma crítica, e um desafio: resenha-lo de forma justa. Como já disse antes, não é um livro para mim, mas tem seu público específico. Então, vamos começar com uma análise geral da obra, antes de entrar em detalhes.

 

Em geral, o livro me surpreendeu por ter, mesmo entre clichés, uma voz própria. Essa voz existe devido à premissa de comédia no tom da narração, no lugar daquele dramalhão típico de romances adolescentes. Por vezes, me peguei rindo alto do que tinha lido, e vocês que já me conhecem sabem que a Ceifadora de Sonhos raramente ri. Muitos pontos para a autora, por ter sempre injetado esse bom humor único durante o livro. Pontos também para a linguagem: coloquial, sem ser boboca, sem ser “menininha” demais. Outro ponto ela ganhou quando não focou a trama apenas no triângulo amoroso clichezérrimo menina + dois irmãos, e incluiu uma abordagem relacionada à carreira da protagonista.

 

A partir daí, meus conflitos como leitora foram relacionados à expectativas de que ela não percorresse o mesmo caminho de sempre. Quando ela quebrava um cliché, um ficava feliz. Aí ela entrava em outro, e eu ficava decepcionada. Vamos entrar nos detalhes:

 

POVs: POVs diferentes já estão batidos. Ainda acho que são uma opção de narrativa, mas para funcionarem, esses pontos de vista alternados tem que oferecer algo de novo. Não é o caso aqui. Pelo contrário, ela caiu na mesma armadilha da Sophia Muller em “Enlouquecida”, também resenhado por mim nesse site: dá um passo para trás quando muda de POV, narrando a mesma cena, ou parte dela, quebrando assim, completamente, a tensão da trama. Quando você quer continuar, ela te arrasta para trás, e o ponto de vista não é tãaao diferente do que o leitor pode imaginar, não apresenta surpresas. Quero gritar para todos os escritores: se forem fazer alternância de POV, façam de uma forma NOVA!

 

Algumas falhas de estilo de escrita, para mim, foram a americanização, que acontece quando a pessoa está tão acostumada a ler traduções de livros americanos que acaba sem querer adotando frases e palavras que não fazem sentido num livro escrito em português. Ninguém chama ninguém de “bastardo”, gente, a menos que esteja se referindo à falta de pai/mãe. Outra falha é a que sempre, sempre aparece por aqui: falta de DESCRIÇÃO: ambientes, cheiros, cores, objetos precisam ser melhor trabalhados. A narrativa fica só em ações e diálogos.

 

Alguns erros de digitação precisam ser revisados e corrigidos. Algumas marcas poderiam ter sido rapidamente pesquisadas no Google, porque foram escritas errado: “porche” em vez de “Porsche”, “Mac Donalds” em vez de “McDonald’s” etc. Uso de vírgulas precisa ser revisado também, algumas palavras precisam ser colocadas em itálico.

 

Vamos falar de personagens? Bom, sou chata com isso, mas nesse livro os achei relativamente bem trabalhados. Não fiquei com aquela aflição de enxergar apenas nomes e não pessoas. Gostei da forma como ela abordou as peculiaridades de cada um, e deu passados e personalidade a cada um. Vi duas oportunidades excelentes para trabalhar personagens, que a autora desperdiçou: Alexandre, no momento em que janta com Fernanda e tem um momento de nos mostrar quem realmente é, não o faz: a cena é descrita com pressa, quase preguiça, e me deixou decepcionada. Tem apenas um POV de Mônica, em que achei muito boa a abordagem da personagem, mas esse momento de inspiração não teve continuidade e ela voltou a cair na vilã clássica das novelas da Globo, com artimanhas previsíveis.

 

Me incomodou demais: a virgem gozar na primeira vez, vaginalmente, ainda por cima. Ai, gente, por quê não falar de sexo de forma realista? Qual é o problema de ter sido uma primeira vez de merda? Faria a segunda vez melhor, ué...muito cinquenta tons, odiei.

 

Outra coisa que não gostei: o termo misógino empregado para descrever Alexandre. Forte demais. Misoginia é um ódio por mulheres em geral, característica de estupradores e serial killers, e Alexandre obviamente não é misógino, ele é mulherengo, o que é bem diferente. Também não gostei muito de Augusto, porque homens como ele não existem. No geral, os pontos que me incomodaram eram relacionados à repetição de elementos: mocinho rico (agaaaaainnn), etc. Os elementos O Diabo Veste Prada também me incomodaram um pouco.

 

Outro ponto: o livro começa com algo chamado de “sinopse”, sendo que não é uma sinopse, é um prólogo. Isso precisa ser mudado com urgência. Esse prólogo entretanto, é bom, porque faz o leitor querer ler mais.

 

Um elemento que curti: a menina que tem tudo para ser a “vilã”, logo no começo, não se torna uma vilã: foi um dos momentos em que houve a expectativa de um cliché, que foi quebrada. Adoro quando isso acontece.

 

Mais um elemento que quero por em foco: de vez em quando entra a voz do “narrador”. Achei estranho, quebrou algo, me fez lembrar que estou lendo um livro, sendo que eu estava entretida com a história. Sugeriria que ela encontrasse uma forma mais criativa de narrar o que quer, por esse ponto de vista. Primeiro que o narrador não é necessário e contribui pouco. Mas se ela realmente quer ter uma voz onipresente, poderia encontrar uma pessoa para ser esse narrador. Ler a palavra: “narrador:” me incomodou muito nesse livro.

 

Considerações finais: Esse Amor Que Me Faz Delirar (eu não gostei do nome) se destaca dos romances teen que tenho lido recentemente pela voz própria e humor singulares da autora. Tem uma trama gostosa, é uma leitura prazerosa, é um livro que tem tudo para agradar sua faixa etária e público alvo. Mas se a escritora quiser se aperfeiçoar, ela precisa aprender a apresentar mais quebras de clichés (como fez diversas vezes nesse livro), mais criatividade para evitar essa repetição menino-rico-faz-virgem-pobre-gozar-na-primeira-vez. Ela explorou bem algumas personagens: Augusto, Fernanda, etc, mas poderia ter abordado melhor Mônica e Alexandre. Ela tem potencial, e não deve nunca perder o senso de humor e estilo de empregar comparações, frases populares, e gozação. Ganhou pontos por ambientar a obra no Brasil, mas os perdeu pela narrativa americanizada. O que falta aqui? Ler livros fora desse gênero para usar como inspiração, e ser mais detalhista, em descrições, personagens, e oportunidades para exercer sua criatividade. Leria outra obra dela. Vai conquistar um público amplo, mas caso se dedicar mais, terá um público mais exigente no futuro.

 

Avaliação da Lady Quill: (1-5)

Linguagem e estilo: 4,0

Personagens: 3,0

Trama: 3,5

Originalidade: 2,5

Total: 3,25

 

 

 

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